A Palavra de Deus: Marcos 1:16-18
A ideia de vocação depende de uma primeira pessoa. Ninguém chama a si mesmo. Então, quem chama? Para que é o chamado? Como responder a ele? Essas são perguntas que os crentes fazem, e este texto responde.
16Andando à beira do mar da Galileia, Jesus viu Simão e seu irmão André lançando redes ao mar, pois eram pescadores. 17E disse Jesus: “Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens”. 18No mesmo instante eles deixaram as suas redes e o seguiram.
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[V] Veja o que o texto diz
Depois de relatar a fé pública de Jesus e sua conexão espiritual com o Espírito e o Pai, seguida do ministério de comunicação do Evangelho que resultou disso, Marcos começou a descrever um terceiro princípio. A missão de Jesus era comunicar a boa notícia do Reino, mas, enquanto fazia isso, ele chamou pessoas.
Para melhor compreensão deste texto, devemos levar em conta o relato de João (Jo 1:35-42) sobre o primeiro encontro de André, Pedro e possivelmente João com Jesus, se não Tiago também. Primeiro, eles conheceram e creram em Jesus. Agora, recebem outro chamado.
Qual foi o processo que configurou o chamado de Jesus a Simão e André? “Andando à beira do mar da Galileia” – É interessante que, em Mateus 9:35,36, Jesus, enquanto pregava a boa notícia do Reino, também estava em movimento e percebeu as multidões. Aqui, ao caminhar, ele percebe Simão e André, que já conhecia da congregação de João Batista. “Jesus viu Simão e seu irmão André” – Esse ‘ver’ vai além do simples enxergar; trata-se de perceber algo mais profundo. Jesus viu além da aparência e possivelmente reconheceu os dois jovens que haviam crido nele. “E disse Jesus” – Depois de caminhar ao longo daquela praia e perceber Pedro e André, Jesus falou com eles, e a Palavra de Jesus mudou tudo.
Em que consistiu o chamado de Jesus? Jesus fez um chamado que exigiu uma negação tríplice: “Sigam-me” – Lit. ‘venham atrás de mim’, um imperativo que indica a negação da própria decisão; foi um chamado ao relacionamento em submissão. “E eu os farei” – Ao creditar a si mesmo a ação, Jesus incluiu a negação da capacidade; os discípulos não precisavam fazer nada por conta própria, pois ele mesmo realizaria a transformação; foi um chamado à mudança. “Pescadores de homens” – Finalmente, ao assinalar uma nova atividade (“pois eram pescadores”), o chamado implicou a negação da função anterior; foi um chamado ao ministério.
Como Marcos descreveu a resposta exemplar dos dois discípulos? “No mesmo instante” – No grego, o termo usado deriva de uma raiz que significa ‘bem colocado’, dando a ideia de prontidão. Os discípulos responderam sem hesitação. “Eles deixaram as suas redes” – As redes, feitas de fibras nobres e tecidas manualmente, provavelmente custavam semanas e até meses de trabalho. Além disso, eram o principal instrumento da profissão, o que significa o abandono de um bem material significativo e do próprio meio de subsistência. Esse abandono sacrificial foi a resposta daqueles discípulos ao “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). “E o seguiram” – A prontidão dos discípulos também abrangeu o seguir, revelando obediência imediata e incondicional ao imperativo de Jesus. Eles seguiram, e Jesus começou a fazer.
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[O] Ouça o que o texto ensina
Marcos relatou um episódio que não parece ser casual, mas intencional. Depois da viagem para o batismo na Judeia e o tempo no deserto, quando encontrou Pedro e André pela primeira vez, Jesus saiu de Nazaré e foi morar em Cafarnaum (Mt 4:12,13). Andando pela praia vizinha, ele percebeu os rapazes que encontrara havia mais de três meses e que podem ter viajado juntos na volta.
O primeiro encontro com Jesus levou André, Pedro e possivelmente João a crerem que ele era o Filho de Deus e Rei de Israel, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Eles até começaram a testemunhar e trazer outros para conhecer Jesus (Jo 1:35-51). Contudo, continuaram com sua profissão, ocupados com as tarefas do dia a dia.
Até que Jesus disse: “Sigam-me”. Então, eles atenderam prontamente a esse segundo chamado, deixando seus bens e sua carreira profissional, abrindo mão de seus planos e decisões para seguir Jesus onde quer que ele fosse. Depois de responderem de modo adequado ao chamado à fé, pelo testemunho admirável de João Batista, agora reagiram perfeitamente à vocação ministerial do próprio Jesus.
Jesus não os chamou para continuarem sendo, fazendo, tendo ou estando do mesmo modo. Eles eram pescadores, lançavam as redes que tinham e estavam às margens do mar da Galileia. Agora, eles seriam pescadores de pessoas, seguiriam Jesus, teriam o que ele lhes desse e estariam onde ele estivesse. Essa foi a natureza da vocação de Jesus.
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[S] Sinta o que o texto quer
Este texto mostra como a fé em Jesus pode evoluir para a vocação ministerial. Esses dois momentos são distintos, como foram na vida de tantas pessoas ao longo dos séculos. Ao meditar nesta palavra, nossos olhos, ouvidos e coração devem ficar atentos para ver Jesus se aproximando de nós em nossa própria praia.
No processo de desconstrução da missão da igreja nas últimas décadas, começamos a interpretar erroneamente a ideia tradicional de que “todo crente é um missionário”. Devemos confessar esse erro, pois o chamado ministerial é bem diferente do testemunho que damos simplesmente porque cremos.
Precisamos aceitar e viver com a convicção de que a vocação é divina e que Deus não nos chama para profissões e carreiras seculares. O chamado é para deixar tudo e segui-lo. Se compreendermos isso, estaremos mais prontos para atender ao chamado ministerial quando o ouvirmos. Deus nos chama para pescar pessoas.
Outra profunda transformação, que deve perdurar por toda a nossa vida nesta terra, é que não somos nós que fazemos, é Jesus. Somos chamados a segui-lo em total obediência e dependência, esperando nele para tudo o que ele quiser e mandar. O sucesso ministerial não depende do que fazemos, mas do que Jesus faz.
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[?] Perguntas para reflexão
- Você já ouviu o chamado para o ministério depois da conversão? Qual foi sua reação?
- Que redes você teria que deixar? Quais dificuldades enfrentaria para segui-lo na carreira ministerial?
- Quanto tempo você demoraria para aceitar uma mudança radical em seus planos de carreira?