Superando o viés de confirmação para falar e ouvir com integridade.

“… porque tudo o que ouvi de meu Pai eu lhes tornei conhecido”
Jo 15:15

Fico admirado com o valor que Jesus deu à comunicação como qualificador dos relacionamentos e da produtividade ministerial. Quando atentamos para isso, devemos considerar os obstáculos à comunicação em nossa equipe, seja no ministério ou na igreja, particularmente o viés de confirmação. Este fenômeno psicológico, pelo qual preferimos informações que corroboram nossas crenças preexistentes e desprezamos aquelas que as desafiam, sempre se torna um obstáculo invisível à inovação e ao crescimento. Ao aceitar que podemos ser iludidos por esta tendência, saberemos por que somos rápidos em dizer “não” ou hesitantes em valorizar novas perspectivas. Portanto, enfrentando o viés de confirmação, não só melhoraremos nossa capacidade de comunicação, como também fortaleceremos a colaboração na equipe. Este é o primeiro passo para transformar os desafios identificados no ministério em excelência na comunicação e frutos para a glória de Deus.

O viés de informação, um conceito bem estabelecido na psicologia cognitiva, foi aprofundado por pesquisadores como Daniel Kahneman e Amos Tversky, que demonstraram como nossa mente está predisposta a favorecer o que já conhecemos e a filtrar dados díspares com nossas crenças. Na comunicação, este viés pode significar que absorvemos informações seletivamente, um fenômeno que o trabalho de Elizabeth Loftus destacou ao tratar da maleabilidade da memória. No contexto de uma equipe ministerial, tal tendência pode levar à monotonia do pensamento, limitando a diversidade de perspectivas e, por consequência, a riqueza do diálogo e da inovação. Ao desafiar o viés de informação, abrimos portas para que todos os membros da equipe contribuam com sua visão única, permitindo que o corpo coletivo se mova além do status quo e alcance novos patamares de serviço e ministério.

Permita-me apresentar cinco sintomas do viés de confirmação que identifiquei em mim mesmo e em minha própria equipe ministerial. Estes sintomas exemplificam como este obstáculo nos faz tropeçar, justamente naquilo em que deveríamos ser excelentes. A predisposição para o ‘não’: às vezes o ‘não’ aparece mesmo antes de a ideia divergente ter sido completamente exposta; outras vezes, o ‘não’ vem como vendeta de alguém cujas ideias forma rejeitadas antes. Desvalorização do pensamento: por vezes o árduo trabalho de desenvolvimento, transparente em uma argumentação consistente e bem embasada, é simplesmente ignorado, quando deveria alertar para uma análise mais cuidadosa. Falta de questionamento produtivo: salta-se imediatamente para a argumentação contraditória, ao invés de se fazerem perguntas que aprofundem e explorem a nova ideia. Críticas sem propostas: os argumentos contrários são estéreis, negam a qualidade do que é apresentado, mas não propõem nenhuma solução viável. Resistência à inovação: inovações tem um custo relativamente alto e demoram para ultrapassar a produção existente, com isso, são facilmente descartadas quando não podem ser vistas com boa-vontade.

Considerando essas evidências do viés que nos impede de analisar honestamente novas ideias, propus à minha equipe e tenho insistido em cinco atitudes que devemos adotar para qualificar a nossa comunicação, impulsionar a inovação, solucionar problemas e produzir resultados. Adotar o ‘sim’ qualificado: dizer primeiro ‘sim’ para novas ideias, estabelecendo condições justas para analisá-las e implementá-las. Valorizar o pensamento: considerar cada proposta a partir do tempo investido no projeto, na coerência de seu detalhamento e na solidez do embasamento, evitando as precipitações e inconsistências. Fazer perguntas construtivas: permitir e estimular o proponente elucidar e detalhar aspectos menos definidos, ampliando a área de conhecimento público na janela de comunicação. Focar em soluções: insistir na gestão criativa de problemas identificados, mesmo ao criticar uma ideia nova, contribuindo com a melhoria ao invés de desmotivar e desconstruir. Estar abertos à mudança: aceitar que o ministério deve mudar continuamente para evitar a estagnação e o retrocesso, preparando-se para escolher as mudanças mais efetivas a serem feitas.

Ao refletirmos sobre os ensinamentos de Jesus em João 15:15, vemos que a qualidade da comunicação não é apenas um acessório, mas um imperativo para fortalecer os relacionamentos e a eficácia no ministério. A superação do viés de confirmação que, de outro modo, corrompe o entendimento e inibe as soluções, nos levará ao pleno cumprimento da missão que Deus nos delegou. As estratégias propostas para combater as tendências viciosas na dinâmica relacional são passos decisivos para cultivar uma cultura de avaliação honesta e abertura à inovação, elementos vitais para um ministério dinâmico e frutífero. Encorajo cada membro da nossa equipe, cada leitor e sua própria equipe, a adotar essas cinco atitudes como parte do compromisso permanente com a excelência na comunicação, garantindo que cada voz seja valorizada e cada contribuição considerada. Assim, não apenas cresceremos como indivíduos, mas também como comunidade, unidos para enfrentar os desafios, representar Cristo e aproveitar as oportunidades que Deus coloca diante de nós para Sua glória e para o avanço do Seu reino.

Foto de José Bernardo

José Bernardo

Fundador e presidente da missão AMME

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