Cultura e fé nos Jogos Olímpicos.
Durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, uma performance provocativa causou grande repercussão. Parodiando a icônica pintura de Leonardo da Vinci, atores travestidos representavam um novo grupo messiânico diante de uma mesa que serviu para um desfile de moda, depois um baile, e finalmente apresentou um cantor nu, como o deus romano Baco, que ocupava a posição do alimento servido. A escolha de elementos pagãos e de sexualidades alternativas na imitação de um ícone do cristianismo renascentista gerou debates acalorados sobre a natureza da arte, a liberdade de expressão e a sensibilidade religiosa. Muitas autoridades, inclusive evangélicas, se apressaram em acusar o Comitê Olímpico de blasfêmia e ofereceram resistência suficiente para que o vídeo do evento fosse retirado do site oficial.
Meu pensamento sobre o episódio, que analisei quando a celeuma já estava instalada, foi o que sempre me ocorre por causa da Teologia Bíblica: Que texto bíblico trata desse assunto, e o que nos ensina? Vejo que Paulo, prevenindo Timóteo para o ministério na pós-modernidade de sua era, nos oferece a clara instrução de Deus inspirada. “Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos por sua manifestação e por seu Reino, eu o exorto solenemente: Pregue a palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina. Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos. Você, porém, seja moderado em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério” 2Tm 4:1-5 NVI.
Paulo começou essa nova seção de sua carta conjurando Timóteo ao comportamento que explicará, “na presença de Deus e de Cristo Jesus”. Ele descreveu cuidadosamente quem é Jesus, sua dignidade, sua presença e sua autoridade. Paulo sabia quem é o Senhor, conhecia sua glória incomparável e compartilhava isso com Timóteo. Ao olhar para a cena perpetrada na abertura dos Jogos Olímpicos, não me relaciono com o ‘messias’ que escolheram, nem com aquele que Leonardo representou. São todos figuras religiosas que não podem se comparar com a pessoa de Jesus. Não posso tratar do ataque à religião institucionalizada, feito por um movimento cultural transitório, como se fosse um ataque àquele cuja palavra julga a todos, sem distinção.
No segundo versículo, Paulo, que vinha tratando de um cenário hostil, dá uma instrução definitiva sobre a missão de Timóteo e de toda a igreja: “Pregue a palavra”. Ele não disse para se ocupar de trabalhos sociais, de defesas apologéticas, de participações culturais. A comunicação do Evangelho é a exclusiva e suficiente missão da igreja e de cada crente. Portanto, antes de pensar em como devemos reagir a provocações como esta do Comitê Olímpico, devemos lembrar que onde estivermos, com quem convivermos, nossa missão é uma só: pregar. Paulo até mesmo estabelece um método didático eficiente para isso. A pregação deve consistir na denúncia de erros, seguida da promoção de acertos e finalizada com a orientação para a vida em justiça. Os comentários irados e vingativos sobre a ofensa contra o ícone de Leonardo da Vinci não representam a missão de Deus para a igreja. O que vimos deveria nos lembrar que, como disse alguém, Jesus não nos chamou como seus advogados, mas como suas testemunhas. São louváveis algumas valentes iniciativas de obediência a Deus na evangelização, mesmo contrariando o Comitê para o qual toda religião e religiosidade podem ser admitidas, menos o Evangelho.
Não deveríamos esperar muito dos jogos que se chamam ‘Olímpicos’, nomeados em lembrança das festividades que se realizavam em Olímpia, em honra do deus Zeus e sua corte. Parece que Dionísio apareceu no lugar destinado a ele. Paulo avisou a Timóteo o que presenciamos neste mês de julho. As pessoas não aceitam ensinos saudáveis, preferem quem diga o que desejam, se recusam a perceber a realidade e se voltam para mitos. Não é exatamente isso que representaram no prazer, a sexualidade e o consumismo como prato principal? Não é aquele o ‘messias’ que escolheram, e não são aqueles os ‘apóstolos’ a que dão ouvido? Então não há surpresa! As pessoas fizeram apenas o que fomos advertidos que fariam; escolheram exatamente o que sabíamos que escolheriam. Isso não deveria nos distrair de nossa missão. É nesse cenário que devemos proclamar Cristo Jesus, que vive e reina e que julgará aos que estão vivos mesmo depois de morrerem.
Então, qual deveria ser a nossa atitude diante da escolha religiosa do Comitê Olímpico, dos deuses que preferiram adorar? Primeiro, devemos ser sóbrios, não nos iludindo com esse mundo e ignorando que a nossa luta não é contra seres humanos, nem as nossas armas são carnais. Segundo, sofrer o mal, ou sofrer por causa do mal; não porque um ícone religioso foi zombado, mas porque a ilusão em que aquelas pessoas que atuaram, e tantos que assistiram, as está destruindo para a eternidade. Será que ao invés de enfrentar os perturbados que nos perturbam, deveríamos andar a segunda milha e nos esforçarmos ainda mais para que ouçam o Evangelho do Reino? Terceiro, fazer a obra de um evangelista. Ora, um evangelista evangeliza, inclusive nas Olimpíadas, inclusive nas redes sociais. Deixemos de lado os embaraços dessa vida e façamos o que Jesus nos ordenou. Finalmente, devemos completar o nosso ministério. Um terço da humanidade ainda não ouviu falar de Jesus, há muito o que fazer, então, deixemos desvarios ideológicos de lado e nos dediquemos a pregar a Palavra.
Volta e meia, símbolos do cristianismo são escarnecidos, igrejas são atacadas, cristãos são perseguidos, presos e torturados. Esse mundo, perdido em suas ilusões, preso por seus desejos, continuará produzindo filmes, canções, dramas e até leis que pretendem nos atacar. O texto que escrevi não se refere ao fato ocorrido nestas Olimpíadas. Espero que você possa lembrar dele da próxima vez que os desvarios de pessoas mundanas parecerem afetar você: “Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia.” Jo 15:19 NVI.