Superando nossa subjetividade cultural para obter resultados.

Há alguns anos, visitando a Alemanha pela primeira vez, um pastor local procurou me prevenir para a experiência cultural à frente: ‘Os alemães são muito objetivos’, afirmou. Quando disse a ele que estava habituado com a objetividade americana, ele insistiu em que os alemães eram muito mais diretos. Essa conversa me fez refletir sobre a tendência brasileira para a subjetividade. Por toda parte se percebe quão indefinidas são as nossas cores, em nossas infindáveis arengas, na complexidade de nossos processos produtivos, na quantidade absurda de nossas leis, nos intrincados relacionamentos que mantemos, plenos de suposições e jogos emocionais, em nosso jeito de dizer sem dizer e ouvir sem ter ouvido. Definitivamente, o caldeirão étnico brasileiro cozinhou à perfeição uma cultura intensa, complexa, sensível e inconclusiva.

A dinâmica de muitas reuniões, em empresa e até em igrejas, é reveladora: o caos se instaura bem antes da hora marcada, germinado em um terreno de suposições e animosidades dos grupos que se formam nos bastidores. Com o início do embate, as pessoas se armam de competividade contra qualquer triunfo alheio. A ordem é não ceder, independentemente da racionalidade dos argumentos da outra parte. O cerne da questão raramente vem à tona, perdido em debates sobre aspectos irrelevantes e em sofismas egocêntricos. Acuados, alguns lançam mão de armadilhas emocionais e ataques pessoais: vale tudo para não deixar os outros vencerem. A tentativa de resolver o conflito com votações não aplaca os ânimos dos opositores, pelo contrário, iniciam ações de sabotagem e esvaziamento. Os perdedores assumem uma postura de resistência passiva, se tornam indiferentes, se afastam e desistem. O que resta são cicatrizes de inimizade, discórdia, partidarismos e vinganças mesquinhas. O problema é tão grave que, mesmo na evangelização, alertamos os crentes de que Deus nos enviou para ganhar almas, não para vencer debates.

O principal fator nesse cenário de subjetividade improdutiva é o fisiologismo. Nossa cultura de vergonha/ honra faz com que as pessoas tomem a crítica às suas ideias e as sugestões divergentes como uma agressão pessoal. Elas não estão interessadas em que o problema seja resolvido, mas em que seu status seja preservado. A reação não é contra problemas ou necessidades reais, mas contra o que acham que as diminui e humilha. Dessa forma, questões secundárias se tornam mais significativas, tomam a cena e bloqueiam as soluções. Se não puderem colocar o orgulho de lado, não serão capazes de produzir resultados consideráveis e falharão completamente: “O orgulho vem antes da destruição; o espírito altivo, antes da queda.” Pv 16:18. Mas a resposta vem logo em seguida, quando Salomão diz “Quem examina cada questão com cuidado prospera, e feliz é aquele que confia no Senhor.” Pv 16:20. Literalmente, este provérbio garante encontrar o que é bom quando se cuidadoso sobre o que é dito.

Para superar a subjetividade em tantas áreas de nossa cultura e mais destrutivamente em nossas comunicações, é necessário conter o orgulho e adotar pelo menos duas medidas básicas: identificar o problema ou necessidade e valorizar os princípios aplicáveis. “Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã trará as suas próprias preocupações. Basta a cada dia o seu próprio mal.” Mt 6:34. Com essas e muitas palavras semelhantes, no Sermão do Monte Jesus ensinou objetividade aos seus discípulos. A falta dela, por qualquer razão, leva as pessoas a preocupações desnecessárias e a prejuízos irrecuperáveis. Com que problema se está lidando? Que solução precisa ser buscada? Manter essa definição sob foco evita a confusão da subjetividade e facilita os resultados. Pensamentos desviantes podem ser facilmente combatidos com duas perguntas simples: Isso se refere ao problema? Isso traz uma solução? Descartando todo comentário que não se refere ao problema a ser solucionado e recusando toda ideia que não propõe uma solução para o problema em questão, será possível se mover em linha reta.

A segunda medida básica é a valorização ou priorização de princípios aplicáveis. Recentemente, participando de uma discussão internacional, observei para os participantes que a demora em encontrar a solução estava na manutenção de muitas variáveis. As pessoas queriam o famoso bom, bonito e barato. Quando não se valoriza um princípio sobre outros, o número de variáveis é tão grande que a solução se perde na profusão de combinações. Neste caso, devemos decidir o que é mais importante e procurar por isso. Um princípio deve ser mais valorizado do que os outros. Se, porém, tudo é importante, nada mais é importante. Priorizar não significa negligenciar outros fatores, mas reconhecer o que é mais necessário e efetivo em um dado momento. Desta forma, a concentração em princípios fundamentais simplifica o processo decisório, levando a ações mais direcionadas e a resultados mais satisfatórios. Cristãos, em qualquer discussão, antes de tudo usarão a suprema priorização ensinada por Jesus: “Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas.” Mt 6:33.

É provável que haja uma reação adversa a esta simplicidade. Em nosso cenário cultural, existe a percepção de que somente o que é complexo e complicado possui valor. Soluções simples são vistas, erroneamente, como desprovidas de mérito. Porém, se na próxima reunião de sua equipe vocês puderem deixar de lado o orgulho, manter o problema sob foco e discutir a partir de prioridades, é certo que vocês precisarão de menos tempo para obter soluções viáveis e ainda manterão a unidade e a cooperação da equipe. Deixemos a subjetividade brasileira para a arte e busquemos a objetividade na gestão e na liderança. Como cristãos, vamos olhar novamente para o ensino de Jesus no capítulo seis de Mateus (Mt 6:19-34), e sejamos objetivos: o céu ou a terra, olhar plural ou singular, Deus ou o dinheiro, as preocupações da vida ou o Reino de Deus. Em Cristo não há espaço para subjetivismos e dispersões.

Foto de José Bernardo

José Bernardo

Fundador e presidente da missão AMME

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