Planejamento Ministerial

A gestão da esperança

O Planejamento Adaptativo é uma abordagem que se destaca em ambientes muito dinâmicos ou incertos. Ao contrário do planejamento preditivo, que se baseia em previsões de longo prazo e na suposição de que o futuro será uma extensão linear do presente, o planejamento adaptativo reconhece a volatilidade do ambiente socioeconômico e ajusta constantemente suas estratégias e ações para responder a novas informações e circunstâncias. Esta abordagem é particularmente relevante para a liderança e a gestão em ambientes que sofrem mudanças rápidas, onde a flexibilidade e a capacidade de resposta são essenciais para os resultados.

No ministério cristão, o planejamento é essencial para o cumprimento da missão e a colheita dos frutos que glorificam a Deus. A Bíblia nos ensina a importância de um bom planejamento, como vemos em Provérbios, por exemplo: “Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos.” Pv 16:9 NVI. Este texto é interessante, pois, ao mesmo tempo em que atribui o planejamento ao ser humano, submete a consecução a Deus. Isso, juntamente com outras ideias importantes da mordomia cristã, como ‘basta a cada dia o seu mal’ (Mt 6:34), apontam para o planejamento adaptativo. 

O Deus que dá ‘o pão nosso de cada dia’ (Mt 6:11) quer que exerçamos o dom de administrar, mas não indica o planejamento preditivo. Uma das expressões mais contundentes dessa realidade está na comissão bíblica relatada em Atos: “Ele lhes respondeu: ‘Não lhes compete saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade. Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra’.” At 1:7-8 NVI. A missão, a longo prazo, não é expressa em tempos ou datas, nem em objetivos, mas em ser permanentemente, em qualquer lugar, sempre procurando oportunidades de fazer. Assim, o planejamento adaptativo também é fundamental para a administração do ministério em cenários socioeconômicos instáveis.

A flexibilidade é a pedra angular do Planejamento Adaptativo. Em vez de seguir um plano rígido e inflexível de longo prazo, as organizações que adotam essa abordagem estão preparadas para ajustar seus objetivos e arranjar os recursos à medida que novas informações surgem. Isso significa estar pronto para mudar de direção rapidamente e reconfigurar o arranjo de recursos conforme necessário. A flexibilidade permite que as organizações permaneçam produtivas e cumpram sua missão, mesmo em face de desafios inesperados e oportunidades emergentes.

Uma característica distintiva do Planejamento Adaptativo é o foco no curto prazo. É razoável planejar para períodos mais curtos. Em nosso caso, trabalhamos com um planejamento quadrimestral, em que cada projeto tem duração máxima de quatro meses. Ao final de cada um, os recursos investidos e os resultados obtidos são liberados para outras iniciativas conforme aparecem novos desafios e oportunidades. Esse enfoque permite maior precisão nas previsões e melhor capacidade de adaptação às mudanças. Planejar em intervalos curtos também facilita o monitoramento contínuo do progresso e a implementação de ajustes rápidos, garantindo que a organização esteja sempre alinhada com as realidades do mercado.

O pensamento bottom-up é outro componente essencial do Planejamento Adaptativo, e torna possível administrar por projetos de curto prazo. A ideia é colocar a tática antes da estratégia. Ao invés de colocar a racionalização no longo prazo e a emoção no curto prazo, como acontece com o planejamento preditivo, inverte-se. No longo prazo coloca-se a tática, isto é, a identidade, inclusive o propósito, as diretrizes e as políticas, como também o posicionamento da organização em relação às forças no cenário. Essas coisas não mudam por muitos anos. No curto prazo coloca-se as estratégias, com a definição de objetivos e o arranjo dos recursos para completá-los. Isso deve mudar de acordo com o fluxo.

As diretrizes no Planejamento Adaptativo são qualitativas, mas não numéricas, permitindo flexibilidade e adaptação. Em vez de se fixarem inicialmente em metas rígidas, números e prazos específicos, a liderança define direções gerais que guiam cada uma de suas ações futuras. Essas diretrizes são projetadas para serem amplas e flexíveis, não casuísticas, facilitando a adaptação às mudanças sem perder o foco na missão e nos objetivos fundamentais da organização. Isso ajuda a manter a coerência e a unidade, mesmo em um ambiente em constante evolução, conectando um projeto ao outro, concentrando os recursos no propósito, e gerando um poderoso efeito cumulativo.

Desde o início de nosso ministério trabalhamos com uma diretriz interna, referente à organização, e quatro diretrizes externas, que contemplam o público-alvo. As cinco diretrizes respondem à pergunta: Como cumprimos nosso propósito? Fortalecendo: Garantindo a saúde e a sustentabilidade da organização. Boas práticas de governança, desenvolvimento contínuo do pessoal, captação suficiente de recursos, relacionamento com o público-alvo e parcerias estratégicas. Motivando: Inspirando e impulsionando as igrejas e os crentes. Orientação missional, alcance na abordagem evangelística e no discipulado, envolvimento dos membros. Treinando: Ensinando e equipando os crentes para a missão. Programas de treinamento para a comunicação do Evangelho, inclusive no discipulado, capacitação, educação e exercício missionários, desenvolvimento de liderança. Suprindo: Fornecendo os recursos necessários para apoiar as atividades missionais. Criação, produção e distribuição de materiais, currículos, equipamentos e tecnologias para o cumprimento da missão. Apoiando: Oferecendo suporte contínuo e consultoria para resolver problemas específicos. Serviços de consultoria e cuidado pessoal, desenvolvimento de soluções, conexão com parceiros e pares.

O uso de diretrizes para orientar projetos e garantir a coerência na gestão de projetos vai muito além de simplesmente defini-las. É necessário garantir que as diretrizes sejam compreendidas e adotadas por toda a organização, e que elas sejam incluídas na dinâmica do planejamento. Isso implica em aprofundar a conceituação missional das diretrizes e popularizá-las em todos os níveis do ministério. A popularização das diretrizes assegura que o planejamento de curto prazo esteja alinhado globalmente e que todos os membros da organização trabalhem em direção a uma visão e missão comuns. A consistência e o alinhamento são essenciais para maximizar a eficácia. No modelo de planejamento que desenvolvi, o primeiro passo é avaliar as ideias ou oportunidades existentes, usando como critério as diretrizes do plano tático.

Foto de José Bernardo

José Bernardo

Fundador e presidente da missão AMME

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