A verdade como fundamento terapêutico para a depressão.

Não importa a ‘motivação’, se exógena ou endógena, a depressão é um distúrbio de percepção. Causas endógenas deste distúrbio incluem fatores biológicos ou internos como genética, desequilíbrios neuroquímicos, e até condições médicas subjacentes. Por exemplo, alterações nos níveis de neurotransmissores como serotonina, dopamina e norepinefrina têm sido associadas com a depressão. Essas substâncias químicas estão diretamente ligadas à regulação do humor, do sono, do apetite, e da percepção geral do bem-estar, influenciando assim a maneira como percebemos nossa realidade. Fatores externos, ou exógenos, como traumas, estresse prolongado, perdas significativas ou mudanças ambientais adversas também desempenham um papel crucial. Esses eventos podem levar a mudanças na percepção que uma pessoa tem de sua vida e expectativas, muitas vezes conduzindo a sentimentos de desesperança, desânimo e desistência.

Em qualquer caso, a depressão é frequentemente caracterizada por uma alteração significativa na forma como uma pessoa percebe a si mesma, seu futuro e o mundo ao seu redor. Na Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), que se ocupa dessa questão, algumas distorções de percepção são: Pensamento tudo ou nada (também conhecido como pensamento dicotômico ou pensamento preto e branco) – a tendência de avaliar as experiências em categorias extremas; Sobregeneralização – a definição de regras gerais a partir de evento isolado; Filtro mental – o foco excessivo em um detalhe negativo, ignorando aspectos positivos ou neutros na mesma situação; Desqualificação do positivo – a inclinação a descartar ou minimizar experiências positivas como insignificantes, tornando a visão de mundo excessivamente negativa. A TCC se propõe a ajudar a pessoa a identificar e superar padrões de pensamento irracionais e prejudiciais para estabelecer uma percepção equilibrada e sadia.

Com isso, é possível dizer que a Terapia Cognitivo Comportamental ‘não está longe do Reino de Deus’, ainda que não tenha chegado a ele, de qualquer modo. Jesus e os autores do Novo Testamento explicaram o fato de que esse mundo está mergulhado em falsidade e engano, e que é missão da igreja comunicar a realidade para que as pessoas sejam libertas: “E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” Jo 8:32. Em nossa era, as visões egocêntricas e relativizadas do mundo são o câncer que ilude e destrói. A Palavra de Deus é a realidade (Jo 17:17), por isso, nos episódios de distorção depressiva da realidade narrados nas Escrituras, foi sempre este o recurso para restaurar a saúde perceptiva. Quando Elias achou que somente ele havia restado e que todos se lhe opunham, Deus falou com ele e restaurou sua percepção. Quando Jonas se sentou sob a trepadeira, angustiado e desistente depois da salvação de Nínive, Deus falou com ele, e esse foi o seu tratamento.

‘A fé é construída a partir da percepção’ (Rm 10:17). Não estou falando de uma crença ignorante e irracional. Quando falo de fé, me refiro a um processo intelectual e cognitivo de acesso à verdade, consistentemente provado e comprovado heuristicamente. Em uma construção assim, se a percepção é distorcida por algum motivo, sua fé não será íntegra, e esse é o verdadeiro problema. Não apenas a percepção, como veículo, é enferma, mas a própria fé é malformada. Mesmo que as causas de distorção da percepção sejam enfrentadas, o alicerce da fé permanecerá deformado, produzindo desesperança e más decisões. Somente o conhecimento da Verdade, da Palavra de Deus, pode conduzir a uma fé que estabeleça a saúde. Esse é o desafio de qualquer linha terapêutica, particularmente em uma cultura de relativização da verdade. É possível identificar racionalizações negativamente danosas, mas não se pode levar a pessoa ao conhecimento da Verdade, simplesmente porque a verdade não é reconhecida e nem aceita.

O caminho para superar a depressão é a percepção da Verdade e o estabelecimento de um alicerce sólido de fé, que possibilitará uma esperança viável e decisões produtivas. Saber com convicção inalienável o que Deus diz sobre a pessoa, sobre o mundo ao redor e sobre seu futuro, é a cura que tantas pessoas esperam. Mesmo causas endógenas podem ser superadas dessa forma, visto que, em muitos casos, não se identificou se as alterações neuroquímicas são motivação ou reação da depressão. De qualquer forma, cabe à Palavra de Deus conduzir a pessoa à percepção realista e à fé verdadeira, enquanto pode abrir espaço para a fisiologia e a neurologia cuidarem de aspectos endógenos. Inaceitável, porém, é manter a depressão como uma enfermidade de estimação, uma máquina de fazer dinheiro, enquanto se recusa o conhecimento da verdade para autenticar as ilusões do individualismo.

Foto de José Bernardo

José Bernardo

Fundador e presidente da missão AMME

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