Superando sentimentos de inadequação ao depender de Deus.
Não sei, não posso, não ouso: o sentimento de inferioridade é um dos grandes impedimentos à obra de Deus. Um dos homens que precisou superar tais sentimentos para cumprir seu ministério foi o primeiro líder dos israelitas: “Moisés, porém, respondeu a Deus: “Quem sou eu para apresentar-me ao faraó e tirar os israelitas do Egito?” Ex 3:11. Esse foi o tema do meu livro ‘Triunfo’ de 2005, as objeções ao chamado divino que parecem ter sido amargadas pelo homem de Deus em 40 anos de autodepreciação na solidão do Sinai. E o sentimento ou complexo de inferioridade não são sentimentos estranhos à cultura popular. Tais expressões populam as conversas até das pessoas mais simples, ainda que a solução lhes pareça ser fantasias de superação e frases otimistas.
Na psicologia, Alfred Adler, psicólogo austríaco e pioneiro da psicologia do desenvolvimento individual (1870 – 1937), destacou-se ao abordar o tema. Adler descreveu esse fenômeno como uma condição em que as pessoas percebem suas próprias habilidades como insuficientes frente às dos outros e às expectativas sociais. Segundo ele, tal percepção pode conduzir a dois possíveis resultados: compensação, que envolve esforços para superar tais deficiências aprimorando capacidades, habilidades e conhecimentos; complexo de superioridade, uma resposta desproporcional na qual o indivíduo busca dominar os outros para afirmar sua superioridade. Para Adler, o sentimento de inferioridade é o impulso inicial da motivação humana, levando-nos da insatisfação para a realização, da inferioridade para a superioridade e para a realização do nosso potencial. Contudo, quando este sentimento torna-se persistente e debilitante, evoluindo para um ‘complexo de inferioridade’, torna-se necessário buscar ajuda para restaurar o equilíbrio e a saúde psicológica.
Quando a busca por socorro chega finalmente ao aconselhamento bíblico, há um novo e inesperado caminho. Quero ilustrar essa diferença com o ensino pertinente de Jesus: “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.” Jo 15:5. Ao invés de utilizar o sentimento de inferioridade como trampolim para o crescimento pessoal, o aconselhamento bíblico guiará a pessoa para o reconhecimento amplo e definitivo de sua incapacidade, a urgência de depender de Deus em uma relação plena de adoração a Ele e o reconhecimento de Sua insuperável grandeza. Foi isso que Paulo aprendeu quando ouviu Deus lhe dizer, “Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”, e concluiu, “Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim.” 2Co 12:9. Foi isso que o mesmo apóstolo demonstrou ter aprendido quando disse: “Tudo posso naquele que me fortalece.” Fp 4:13.
Nesta abordagem bíblica, manter um sentimento ou complexo de inferioridade é duvidar que Deus é o todo-poderoso e pode realizar qualquer coisa através de nós. O complexo de inferioridade, com seu veneno incapacitante e destrutivo, é iniquidade, da soberba, do individualismo, da inveja e do destemor. Foi essa iniquidade que Davi superou antes de vencer o gigante Golias. Depois de ter sofrido desprezo, zombaria, depois do sentimento de inadequação ao tentar vestir a armadura de Saul, mesmo sob ameaças e zombaria, enfrentando uma tarefa impossível, ele disse: “Você vem contra mim com espada, com lança e com dardos, mas eu vou contra você em nome do Senhor dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem você desafiou.” 1Sm 17:45. Esta não é uma história de superação, para mostrar como Davi se tornou mais forte e mais capaz. É uma história de dependência, sobre como o pequeno pastor assumiu suas fraquezas e incapacidades, sendo apenas quem ele costumava ser, e dependeu inteiramente de Deus para superar o obstáculo que o inferiorizava.
Para o aconselhamento bíblico, o sentimento ou o complexo de inferioridade não devem conduzir a um esforço que leve ao sentimento de superioridade, como Adler e outros pensaram. Permita-me repetir, o que devemos procurar é a mais objetiva e realista confissão de nossa pequenez e incapacidade, a completa submissão a Deus em Cristo e pelo Espírito, e a adoração verdadeira, o reconhecimento da grandeza e glória de Deus. Nossas realizações não se limitarão ao nosso desenvolvimento pessoal, nem se equipararão à nossa capacidade humana. Nossos frutos resultarão do infinito poder de Deus, como dizem as Escrituras: “Àquele que é capaz de fazer infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que atua em nós, a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém!” Ef 3:20,21.