Servindo em tempos difíceis
Administrar, tem origem no latim e significa literalmente ‘ser o menor em’ ou ‘a’, portanto, servir em uma função ou a um grupo. A administração mundana não cumpre esse ideal e Jesus enfatizou isso dizendo: “… aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês” Mc 10:42,43. Uma administração falsa, ilusória, incapaz, é um problema em qualquer época, e será intolerável em uma crise. Em tempos de aperto é quando mais precisamos de uma administração verdadeira, realista e perfeitamente competente. Enquanto penso na administração dos ministérios de que eu mesmo participo, quero encontrar e compartilhar recursos para permitam realizar uma análise da qualidade de administração ministerial; por isso escrevi esse breve ensaio.
A administração integral
Uma palavra do grego bíblico para ‘poder’ ou ‘domínio’ é gr. krátos, termo importante porque se tornou o sufixo para palavras como democracia, que significa ‘o poder do povo’. A raiz traz a ideia de algo ‘completo’ ou ‘perfeito’, por isso gosto de identificá-la como ‘o poder da integridade’. Paulo a usou, tanto para explicar, aos efésios, o poder de Deus disponível para os crentes (Ef 1:19), como para dizer de que modo poderiam se fortalecer no Senhor para ficarem firmes no dia mal (Ef 6:10). Pensando na amplitude do conceito ‘integridade’, estou certo de que abrange três aspectos em conexão progressiva: integralidade, a presença de todos os componentes; integração, a conexão entre tais componentes; integridade, a resistência da conexão sob impactos extremos. Para conquistar o poder da integridade, qualquer ministério precisa ter todos os componentes da administração, conseguir uma conexão completa entre eles e garantir que tal conexão resistirá as pressões de uma crise.
A administração composta
A teoria da administração moderna inclui conceitos ideais como organização plana (flat organization), pirâmide invertida (bottom-up), equipes autogeridas (self-managing teams), trabalhadores informados (knowlege-workers) e organização matricial (matrix organization). Na Palavra de Deus, modelos orgânicos, como a árvore, representam melhor um ministério ou igreja. Nela se destacam três tipos de serviço: do tronco, dos galhos e dos ramos. O tronco capta, une e eleva. Os galhos transferem, ampliam e suportam. Os ramos processam, frutificam e perpetuam. Em um ministério os três tipos de serviços devem estar presentes, funcionais e resilientes.
Outra forma de identificar os três componentes da administração é a caminhada: deve haver uma origem, um caminho e um destino, em outras palavras, a administração precisa saber ‘de onde’, ‘por onde’ e ‘para onde’ vai. Uma lâmpada acesa é outra figura interessante, o vasilhame, o combustível e a chama são figuras dos três componentes. Ainda podemos utilizar os termos militares: tática, o propósito identitário; estratégia, o objetivo organizativo; operação, o processo produtivo. Essas três dimensões devem estar presentes, perfeitamente conectadas e resistentes às condições ambientais. Cada uma dessas dimensões pode ser denominada respectivamente como liderança, gestão e produção.
A administração falha
Categorizo as falhas na administração a partir dos três aspectos da integridade.
Falhas na integralidade. Em situação de crise: as pessoas na dimensão tática dificilmente definem ou reafirmam o ‘para onde vamos’. Sem uma tática definida, o ministério não é capaz de definir o ‘por onde vamos’, e é possível que erre ao reconhecer o ‘de onde vamos’.
Falhas na integração. Disputas internas e pressões externas dividem as pessoas e suas funções. Se os componentes da administração são construídos individualmente, se são arranjados em uma ordem diversa ou se assumem uma importância que não têm, inviabiliza-se o ministério e seus resultados.
Falhas na integridade. Essas falhas acontecem quando e as pessoas perdem a visão por medo, corrompem a identidade por ansiedade e abandonam a missão por precipitação, quando o organismo ministerial não tem resiliência para se manter sadio na situação de crise. A administração entra em colapso e o ministério vai à falência.
A administração perfeita
Na lista exemplar de dons que Paulo faz ao explicar como cada crente tem uma função no corpo ele menciona os dons das administrações (1Co 12:28). Ali o apóstolo Paulo usa o termo gr. kubernésis, que significa propriamente ‘pilotar um navio’. Novamente, antes de tudo é necessário um propósito ou destino bem definido, então é necessário um navio e depois um leme. Esses três componentes bem combinados levarão o navio ao porto de destino e representam a administração divinamente integral, integrada e íntegra. Que Deus nos capacite para administrar.