A vida eterna agora

Livre do engano para viver de verdade.

Durante o estudo de João 3:14-18, na Aula 05 do discipulado +amigos, fomos confrontados com o eixo central da mensagem cristã: a vida eterna é um dom de Deus, concedido por meio da fé em Jesus — o Filho unigênito que foi levantado para a salvação de todo aquele que crê. Contudo, para adolescentes e jovens da geração do “seja eterno enquanto dure”, palavras como salvação, vida eterna, inferno ou mesmo crer tornaram-se quase irreconhecíveis. Soam distantes, irrelevantes, abstratas e absurdas. Por quê?

As novas gerações cresceram dentro de uma cultura que desconfia de qualquer institucionalização: religião, escola, governo, igreja. Tudo que soa dogmático, definitivo ou absoluto lhes parece opressor ou ultrapassado. Elas aprenderam a se informar em micronarrativas: um clipe de trinta segundos, um influenciador carismático, um vídeo emocional. Ao mesmo tempo, estão sendo moldadas por discursos terapêuticos, que colocam o indivíduo no centro e definem a verdade como algo subjetivo. Em vez de procurarem a verdade revelada por Deus, elas buscam conforto emocional, aceitam discursos agradáveis e evitam qualquer confrontação real com a realidade espiritual.

Enquanto isso, a teologia da prosperidade perdeu o brilho. As promessas de riqueza, sucesso e cura instantânea não se sustentaram diante da dor real, da ansiedade crescente e das experiências de sofrimento. O resultado é que muitos simplesmente descartam a mensagem cristã como apenas mais uma narrativa entre tantas. Quando se fala em inferno, soa como um mito antigo; quando se menciona o céu, parece uma esperança vazia — um consolo ingênuo. A igreja perdeu sua linguagem de impacto.

Mas o evangelho é, por definição, revelacional. Ele não é uma narrativa simbólica ou terapêutica. Ele é a verdade divina se impondo sobre a ilusão humana. A missão de pregar esse evangelho continua, mesmo quando não há oportunidades, mesmo quando as pessoas preferem fábulas e mitos, mesmo quando elas escolhem mestres que as agradem (2Tm 4:1-5). Essa é a condição do nosso tempo, e é também o nosso chamado. Foi para um tempo como estes que chegamos à posição de discipuladores.

É nesse cenário que adolescentes e jovens começam a se aproximar do discipulado. Eles chegam com os sentidos entorpecidos, intoxicados por anos de mentiras culturais, ideologias, busca por prazer e sofrimento emocional. Isaías 6 descreve esse tipo de geração: “ouvem, mas não entendem; veem, mas não percebem”. Mas àquele que diz “eis-me aqui”, Deus envia com uma missão: profetizar até que olhos se abram, até que os ouvidos se desagravem, até que se tornem sensíveis os corações.

É por isso que João 3:16 precisa ser proclamado com urgência e com clareza. “Para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” Vida eterna não é apenas uma promessa futura. É a realidade que começa agora, quando a pessoa crê. Ela sai da condenação obscura e entra na luz salvadora. Ela deixa o engano mortal, e passa a viver de forma verdadeira, sensível e plena. A vida eterna é a liberdade para ver, ouvir e sentir a realidade como Deus a vê.

Essa geração precisa entender que o mundo é como uma droga: oferece alívio momentâneo, mas intoxica, escraviza e destrói. A vida sem Cristo é uma existência entorpecida, incapaz de perceber a própria identidade. O evangelho é o processo de desintoxicação. É a sobriedade que vem da verdade. Ser salvo é acordar do transe e viver de forma consciente e eterna. Essa é a linguagem que adolescentes e jovens conseguem entender. Isso lhes dá um motivo concreto para orar, para buscar a Palavra, para andar com outros crentes e ser cheio do Espírito Santo. Eles percebem que estão em guerra contra o engano. E que o evangelho é a arma que os liberta.

Durante o estudo de João 3:14-18, o discipulador precisa se apegar ao seu discípulo e fazer de tudo para que ele enxergue essa verdade. Orar com ele. Compartilhar seu testemunho. Perguntar o que ele entende. Responder com paciência. Ser um espelho da sobriedade que a vida eterna traz. A salvação, nesse contexto, é uma ruptura com a ilusão; e isso só pode acontecer quando o Espírito Santo convence o coração. Nisso, o papel do discipulador é tornar a verdade visível, audível e sensível.

Alguns sinais de que isso está acontecendo serão perceptíveis: o jovem começa a questionar o que antes aceitava com naturalidade. Começa a rejeitar as distrações. Começa a buscar a verdade, mesmo que com dúvidas. Começa a amar a Jesus, mesmo sem entender tudo. Esse é o começo da vida eterna. O começo de uma existência real, revelada, consciente e plena. Disso trata a salvação. Esse é o dom de Deus: sair da condenação, deixar a cegueira e viver a verdade. A eternidade começa quando cremos.

Foto de José Bernardo

José Bernardo

Fundador e presidente da missão AMME

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